- Agora será que o
meu namorado pode me contar por que não foi hoje na escola? – Ela disse
irônica. Suspirei.
León Narrando
- Bom, é complicado Vilu.
- Complicado? Complicado como León?
- Eu... Acho melhor não lhe envolver nisso.
- Ora, por favor! Não quero que nosso relacionamento seja à
base de mentiras. Seja sincero comigo, sempre. É só o que peço.
- Tudo bem. Mas terá de ser paciente.
- Vou ser eu juro. Só me conte a verdade.
- Bom tudo começou quando eu era menor. Tinha apenas três
anos e mamãe estava grávida de Diego. Assim que ele nasceu, papai desapareceu.
Exatamente quando Diego completou oito anos, ela morreu. Eu estava na quinta
série e era muito rebelde apesar de ter apenas onze anos. Eu pregava peças em
meus colegas, respondia para as professoras, fugia. E bom, logo após a morte de
minha mãe, nos mandaram para a casa de uma das minhas tias, Jackie. Ela me odiava
e me culpava por tudo. Eu era tão jovem, eu apenas ignorava, pois sabia que
mamãe me amava e não me culpava. Passou o tempo e tudo continuava igual. Ela
bajulava Diego o máximo que podia e nunca nada do que eu fazia era bom o
bastante. Então quando eu tinha 12 anos, nós brigamos. Mas aquela não foi uma
simples briga. Ela perdeu o controle.
Flashback
- VOCÊ NUNCA FAZ
NADA CERTO! É UM IMBECIL QUE SÓ TIRA NOTAS BAIXAS! EM VEZ DE SE ESFORÇAR NA
ESCOLA PREFERE FICAR ME DESRESPEITANDO! GARANTO QUE SUA MÃE SENTIA O MESMO QUE
EU.
- O QUE ESTÁ
INSINUANDO? QUE MAMÃE MORREU POR MINHA CULPA?
- NÃO ESTOU
INSINUANDO NADA! ESTOU DIZENDO O QUE É FATO. ELA MORREU DE COMPLETO DESGOSTO.
DESGOSTO SEU E DE TUDO O QUE VOCÊ FAZIA.
E em meio a
lágrimas, o garoto gritou em busca de provar a si mesmo sua inocência:
- A CULPA NÃO FOI
MINHA TIA JACKIE! VOCÊ A TRAIU! EU NÃO ERA APENAS UMA CRIANÇA. VOCÊ FEZ PORQUE
JAMAIS GOSTOU DA MAMÃE E TINHA INVEJA DELA E DE TUDO O QUE ELA CONQUISTOU!
Então, não
aguentando a verdade, ela levantou o braço e marcou um tapa no rosto do garoto.
Sem medir consequências, saiu correndo e trancou-se em seu quarto. Com raiva,
arrependimento e mágoa.
- N-n-ossa amor, eu não... – Gaguejou Violetta completamente
surpresa.
- Tudo bem, Vilu. Você não sabia. – Abaixei a cabeça e ela
colocou o dedo em meu queixo, levantando minha cabeça e olhando em meus olhos.
- Eu sinto muito León. Entendo se não quiser continuar.
- Você quer mesmo saber?
- Sinceramente? Sim.
- Então irei lhe contar tudo. – Ela assentiu me incentivando
a continuar. – Bom, logo depois disso eu fiz de tudo para que ela perdesse
nossa guarda, o que aconteceu. Mandaram-nos de volta para Buenos Aires, onde a
tia Jade nos cuida até hoje.
- Mas o que tudo isso tem a ver com você cabular a aula hoje?
- Calma. Já vou chegar lá. É só...
- Complicado?
- Sim. Não sei bem por onde começar, ou... Terminar.
- Eu vou tentar entender, só continue.
- Ok. – Suspirei pensando nas palavras certas. – Mamãe antes
de morrer descobriu que tinha colesterol alto, o que podia gerar um infarto a
qualquer instante se ela não se cuidasse. Eu só soube disso, pois encontrei
alguns resultados de exames em seu quarto. Eu nunca contei a ninguém, nem a
Diego, mas... No dia da morte da mamãe, eu fui à casa da tia Jackie. A porta
estava aberta e eu ouvi gritos. Subi rapidamente as escadas e me deparei com a
cena mais terrível que já poderia ver. Papai, sim, aquele a qual havia sumido
do mapa, estava na cama da tia Jackie. Bom, você já deve imaginar como. Mas o
pior foi que mamãe estava lá, na porta... Chorando. Ela e Jackie discutiam
algo, mas eu não conseguia entender, pois estava perdido demais. Eu sempre
soube, ela jamais havia conseguido esquecer o papai, por mais de tudo que havia
a feito, ela ainda o amava. E saber que ele se encontrava escondido com sua
própria irmã deve ter acabado com ela. Eu não consigo imaginar a dor que ela
deve ter sentido... Ela estava vindo em minha direção, mas não me enxergou, sai
correndo e voltei para casa. Diego se encontrava chorando, naquele dia ele
tinha ido à festa do melhor amigo dele... Marco. – Violetta saltou na hora.
- Marco e Diego eram melhores amigos? – Perguntou exasperada.
- Pois é... Surpreendente. Agora se acalme, ainda há muito para
lhe contar.
- Ok. Desculpe.
- Eu perguntei por que ele chorava e ele disse que haviam
brigado, que Marco o expulsou e o acusou de coisas a qual ele não havia feito.
Eu fiquei enfurecido, porque ele faria isso? Eu não ia deixar aquele garoto
acabar com os sentimentos do meu irmãozinho. Mais uma vez, sai às presas e fui direto
para a casa de Marco. Quer dizer, para cá. Assim que cheguei, eu vi... – Fiquei
meio vermelho.
- Assim que chegou, você viu...?
- Você. – Garanto que estou mais vermelho que um tomate
agora.
- Eu? – Ela disse sorrindo.
- Sim, você. E para ser bem sincero, para uma garotinha de
dez anos até que você me surpreendeu participando daquela festa.
- Eu não estava participando! Eu estava estudando e ouvi
música alta, gritos, baralhos estranhos e resolvi descer para ver o que estava
acontecendo. Assim que desci e vi aquilo tudo quase cai desmaiada! Eu queria
matar o Marco! Desde que ele havia feito amizade com aquele idiota do Andrés
andava muito estranho. Sabe, às vezes eu via mesmo Diego lá em casa, mas nunca nos falamos.
Mas você, nunca. Aquela foi à primeira vez. Mas acho que foi suficiente.
- Suficiente para que?
- Para eu me apaixonar por você. – Sorri de canto. – Mas
continue.
- Ah sim, quando eu cheguei lá e te vi. Bom, eu me esqueci de
tudo. Do porque a qual eu estava lá e o que eu estava prestes a fazer. Você me
hipnotizou, e bom tenho que admitir, eu não gostei nada disso na hora. Eu não
sabia o que aquilo significava no momento, por isso, apenas balancei a cabeça e
continuei. Fui até vocês, que estavam conversando... – Ela me interrompeu.
- Corrigindo: Discutindo. – Ri fraco.
- Ok, eu fui até vocês, que estavam discutindo. – Disse dando
ênfase no “discutindo” e Violetta sorriu me fazendo rir. – E disse... – Ela me
interrompeu novamente.
- Espere! Disso eu me lembro.
Flashback
Violetta Narrando
- O que passou na
sua cabeça quando fez essa festa Marco?
- Diversão
Violetta! Se não sabe, isso é algo muito comum entre os adolescentes.
- Adolescentes? –
Eu ri debochada. – Fala sério, você ainda é uma criança! Fazer uma festa
bancando o adolescente não muda nada.
- Cale a boca,
Violetta. Você não sabe de nada! – Ele disse já irritado até que vimos um
garoto a qual eu nunca tinha visto antes em minha vida. E sem saber por que,
quando botei meus olhos nele, meu coração saltou do peito e me encontrei
completamente nervosa.
- Léon? O que faz
aqui?
- Eu quero saber o
que você fez para meu irmãozinho. – Ele disse totalmente seco.
- Eu não fiz nada
para Diego.
- Ah fez. E você
vai me contar tudinho antes que eu faça o que eu pretendia desde que vi meu
irmão magoado.
- Ele ficou magoado?
- O que você acha?
Ele tem apenas oito anos! Você não sabe pelo o que estamos passando, você não
tinha o direito de magoa-lo!
- Com licença. –
Eu disse me pronunciando pela primeira vez. – O que você fez para esse menino
Marco? Pensei que fossem melhores amigos.
- Éramos. Até ele
me trair.
- Te trair? – O
menino desconhecido que acho que se chama León riu. Até que o idiota do Andrés
chegou.
- Sim, ele armou
contra o Marco. – Andrés disse.
- Ah ele armou?
Claro, e o que mais? – Ele parecia já estar perdendo a paciência agora que
Andrés chegou. Marco suspirou.
- Olha, já chega
né? Pergunta para seu irmãozinho que ele sabe muito bem o que fez. Se nos dá
licença, temos coisas mais importantes para fazer do que ficar lhe contando
porque seu irmão é um idiota.
- Ei Andrés! Qual
o seu problema? Diego não é um idiota. – Disse Marco surpreendendo a mim e ao
menino.
- Claro que não. –
Disse Andrés irônico. – Qual é cara? De qual lado você está?
- Do que é certo.
Sabe? Já cansei de agir que nem um fantoche para você. Diego sempre me apoiou
apesar do que fez, e nunca me fez de escravo que nem você faz. Basta Andrés! Eu
não aguento mais! – Marco saiu furioso. O menino me olhou ainda surpreendido e
aparentemente feliz e foi atrás de Marco e eu, voltei ao meu quarto, completamente
encantada com aquele até então desconhecido.
- Foi assim que eu e Marco viramos amigos. Naquele dia eu
percebi o quão gente boa ele era. – Eu disse me lembrando.
- Eu não preciso nem dizer do quanto fiquei feliz por vocês
virarem amigos. – Gargalhei.
- Imagino. Eu vinha aqui todo santo dia. – Eu disse com um
sorrisinho de canto.
- Idiota! Foi por isso que eu nunca consegui te esquecer.
- E eu agradeço imensamente por isso. O que seria de mim sem
você, afinal? – Ela me olhou com os olhos brilhando.
- De você eu não sei. Mas sei que de mim não seria nada. –
Falou se aproximando.
- Viu como até separados nós nos completaríamos? Pois eu
também não seria nada sem você. – Ela sorriu e me beijou. Acho que ainda não
era hora para o fim daquela história.